Casal Brasil-Nigéria é eleito Power Couple do ano pela Década dos Afrodescendentes da ONU

 

Foto - divulgação.

Eles se conheceram de maneira inusitada: através da salsa na cidade do Rio de Janeiro. Daquilo que seria um encontro casual na noite carioca nasceu um casamento, uma filha e uma empresa: a The African Pride, unindo os sonhos do empresário Ajoyemi Osunleye e da historiadora Carolina Morais.

Em 2015, quando começamos a conversar sobre nossas ideias percebemos que havia algo em comum para além da paixão pela dança. Conectar a maior diáspora africana com o continente africano era um desejo que ardia em nós.

Vimos ali a possibilidade de aliar nossas expertises, afirma Ajoyemi, que veio ao Brasil de férias e escolheu residir no país. No ano de 2022, o casal foi anunciado como POWER COUPLE pela ONU, através da premiação MIPAD – Most Influential People of African Descent, que já reconheceu trabalhos como o de Djamila Ribeiro, Anielle Franco, Lewis Halmiton entre outras personalidades negras.

De acordo com Ajoyemi, cujo nome em iorubá significa: a viagem me favorece, conta que as similaridades com a cultura iorubá de sua terra original Ekiti, de onde veio o povo Fon, foi um dos fatores que o fez ficar de vez: a cultura é mais que um soft power, é um mecanismo de projeção econômica. O Brasil vende, por exemplo, o Carnaval pro mundo, e a base do Carnaval, aqui no Rio, é justamente a cultura do povo iorubá, porém estamos desconectados.

Até eu chegar ao Brasil, não fazia ideia de quão forte era essa relação. Para Carolina Morais, mestre em história da África, falar de África no Brasil é um desafio, o desconhecimento e a generalização prejudicam relações que poderiam ser catalisadoras de transformações sociais e econômicas.

Estudo o continente africano há 13 anos, comecei na graduação em história na UFF e nunca mais parei. Porém, falar de África no Brasil é um desafio constante.

Colocamos o continente estagnado em um passado idílico, relacionado sempre à escravidão, à pobreza ou reduzido a mitos. Não encaramos, vemos ou aprendemos com a África de hoje, contemporânea, economicamente ativa, produtora de conhecimento.

Foi a partir daí que surgiu a The African Pride, da necessidade de criar pontes sólidas, para que os brasileiros e, principalmente, a população negra brasileira, pudesse fazer esse caminho de retorno, completando o quebra cabeça de nossa memória com um pedaço de nós que ficou do outro lado do Atlântico. A The African Pride promove, desde 2016, intercâmbios entre Brasil e países africanos, através de eventos, produção de conteúdo, consultoria de negócios, mapeamento de oportunidades, agendas de comitivas e personalidade africanas.

Uma ponte de interação com a África contemporânea, a partir de uma conexão ancestral contundente e preservada no Brasil, principalmente por quilombos e terreiros. A empresa foi responsável por promover duas visitas de Sua Majestade Imperial Ooni de Ifé ao Brasil, em 2018 e este ano, em 2023, quando a maior autoridade do povo iorubá encontrou-se com o presidente Lula na data inédita, dia de celebração das religiões de matriz africana, 21 de março.

Em 2022, foi articuladora junto à União Africana ECOSOCC Nigéria, organismo que reúne os 54 países do continente, para entrega do título de embaixador da União Africana ao apresentador e ativista Manoel Soares, sendo a primeira pessoa negra da diáspora brasileira a receber tal título. Uma das personalidades trazidas pela The African Pride ao Brasil, neste ano de 2023, foi Wole Soyinka, primeiro prêmio Nobel de literatura de África, que participou das celebrações do Dia da África no festival Back to Black.

Em sua fala o professor salientou a importância de retornar ao continente africano para redesenhar a imagem que a diáspora tem sobre África, e resgatar laços das famílias que foram dissolvidas pelo processo de escravização, ao longo de séculos. O trabalho que os descendentes de África, Ajoyemi e Carolina realizam à frente da The African Pride é pavimentar o caminho desse retorno, no qual a origem é o próprio destino, capaz de provocar uma mudança de paradigma para o indivíduo que volta à África e para toda sociedade brasileira. “O que planejamos é que cada descendente de África possa apoderar-se de sua identidade e viver em sua completude, sabendo que ele é o Orgulho da África”, afirma a cofundadora Carolina, que em sua primeira visita à Nigéria foi batizada em cerimônia real como Omidele, pelo rei de Ifé.

A premiação dada ao casal pelo MIPAD é um reconhecimento de trabalho de 7 anos contínuos. A cerimônia de entrega será realizada entre os dias 29 de setembro a 2 de outubro de 2023, na sede da ONU, em Nova York. Entre os nomeados está Vinícius Júnior, pela sua voz ativa contra o racismo.

 

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Por: Redação.

Fonte: The African Pride.