O novo trabalho do ex-líder do grupo Tio Samba
combina bossa nova, baião, sambalanço com tempero afro-pop-latino e rock-maxixe
com pitada de maracatu.
No
mundo globalizado, em que culturas se misturam, é mais do que natural que os
artistas absorvam influências diversas e as levem para seus trabalhos
combinadas das mais originais formas. E é exatamente essa originalidade
miscigenada que envolve quem ouve o novo trabalho do cantor e compositor Carlos
Mauro: “Meu Deus é Bom”, seu segundo EP de carreira solo, lançado nas
plataformas de streaming.
Carlos
Mauro foi líder da banda de rock A Mosca (1987-1993) e do grupo Tio Samba (1998-2018).
Então, nem é difícil entender como ele se sente à vontade nos mais diversos
gêneros e ritmos musicais. O novo EP – da continuação de uma futura trilogia
iniciada no EP “A Favor dos Insetos”, de 2022 – traz quatro composições
autorais e inéditas: duas em parceria com o letrista Marcelo Diniz (“De Quem?”
e “Terra à Vista”) e duas com letras do próprio Carlos Mauro (“Meus Deus é Bom”
e “Par é Ímpar”).
Do
mesmo modo que o EP anterior, “Meu Deus é Bom” foi produzido inteiramente no
esquema “home studio”, sem que o cantor e os músicos tenham se encontrado
pessoalmente – cada artista em sua própria casa. E, mais uma vez, a produção
musical e a mixagem foram feitas pelo violonista, guitarrista e arranjador
Bernardo Dantas, que também participou do Tio Samba e que foi fundador do
Semente, grupo em que despontou a cantora Teresa Cristina.
A
faixa-título deste trabalho fala de Deus de um ponto de vista não religioso. “Embora, por uma questão conceitual lógica,
só possa haver um único Deus, todos nós temos nossa forma de pensá-lo. Até
mesmo os ateus, que não acreditam nele”, observa Carlos Mauro. Ele conta
que se inspirou na sequência inicial da “Quinta Sinfonia” de Beethoven para
estruturar a melodia de “Meu Deus é Bom”, definindo a canção como uma “bossa
nova barroca”. “Apesar de ter sido
composta inspirada na sequência inicial de quatro notas da ‘Quinta Sinfonia’ de
Beethoven, conhecida como ‘Sinfonia do Destino’, a melodia se desenvolve em sua
primeira parte como se fosse uma composição barroca e na segunda parte vira um
samba sincopado no estilo de Martinho da Vila. Por conta disso, a solução para
se criar uma unidade foi envolver toda a canção num ritmo de bossa nova”,
explica Carlos Mauro.
Já
"Terra à Vista", que fala do colapso ambiental em que vivemos, é um
baião firmado numa linha de baixo estruturada em semicolcheias para dar uma sonoridade
pesada, com um pé no rock. Enquanto “De Quem?”, expressando um sentimento de
pertencimento amoroso, é um sambalanço com levada afro-pop-latina; e "Par
é Ímpar", um maxixe-rock – “ou um rock-maxixe”, como brinca Carlos Mauro
–, com algumas acentuações de maracatu, falando da relação entre a arte e seu
espectador/ouvinte/fruidor.
Esse
caldeirão de ritmos, originalmente combinados, é de encher os olhos – ou seria
de deliciar os ouvidos? – de qualquer pessoa criada na riquíssima cultura
brasileira, deleitando-se, desde cedo, com os mais diversos sabores. Bom
apetite!
Por:
Redação.
Fonte:
Luciano Oliveira.