Alice Maria dos
Santos Soares seria uma pessoa comum, como tantas outras se não fosse o
esporte, o jiu-jitsu em sua vida. Natural de São Paulo, esta menina moça,
nascida em 1990, tinha uma vida comum. Foi arrebatada pelo jiu-jitsu, como ela
mesma relata, em meados de 2016, através de um projeto social de um primo, que
dava aulas para a galera da comunidade em que moravam. Dessa forma, observamos
como projetos sociais bem realizados e aplicados conseguem salvar vidas e até
reestruturá-las.
Alice
Maria dos Santos Soares seria uma pessoa comum, como tantas outras se não fosse
o esporte, o jiu-jitsu em sua vida. Natural de São Paulo, esta menina moça,
nascida em 1990, tinha uma vida comum. Foi arrebatada pelo jiu-jitsu, como ela
mesma relata, em meados de 2016, através de um projeto social de um primo, que
dava aulas para a galera da comunidade em que moravam. Dessa forma, observamos
como projetos sociais bem realizados e aplicados conseguem salvar vidas e até
reestruturá-las.
Como diz Alice Maria – “Estava recém separada e buscando
alternativas para defesa pessoal, após um relacionamento tóxico e abusivo”.
Na busca e tentativa de levantar a autoestima, Alice toma a iniciativa de
buscar um complemento para a sua vida, até por questões de defesa mesmo. Dessa
forma, foi pegando gosto pela luta, por esta arte marcial milenar e pelo
esporte.
Com a afinidade que construíra com o
jiu-jitsu, em meados de 2018 começou a participar de competições. “Peguei gosto pelas competições mais ou
menos em meados de 2018, onde fugia depressão e vi nas competições uma porta de
escape, pro que vivia”, relata Alice.
Participando de campeonatos importantes,
Alice Maria esteve no São Paulo Open, o AJP Tour, o BJJPRO, o Circuito Paulista
e outras federações. A bela menina moça se interessou pelo jiu-jitsu quando
tinha 26 anos, sendo, no momento faixa azul.
E o gosto por praticar o jiu-jitsu
ia crescendo em sua vida. “Quando comecei
a treinar, eliminei 15kg e peguei gosto pelo esporte, porque me sentia mais
confiante” - diz Alice, que durante boa parte de sua vida sofreu abuso
sexual na infância e violência na juventude. A prática do jiu-jitsu a salvou.
Depois de sofre tanta violência na
vida, na infância e na adolescência, Alice Maria teria que vencer mais um
desafio em sua vida. Com a segurança que o jiu-jitsu lhe deu a atleta tem
lutado contra um câncer diagnosticado em 2022. Muito agressiva a doença fez com
que parasse de trabalhar e de treinar, por conta da quimioterapia os efeitos
colaterais são muito intensos.
Trabalhando como carteira há quase
10 anos, Alice teve que se afastar do trabalho, pelo fato de não conseguir mais
trabalhar na rua e nem nos serviços internos. Além disso, teve que se afastar
dos treinos e das competições como ela mesma relata – “Não posso mais treinar jiu-jitsu por conta do cateter e mesmo por que
não tenho forças e nem fôlego pra isso, mas continuo fazendo academia”.
Tudo isso, mais a doença, um
tratamento pesado e o histórico de abuso e violência quase a levaram ao
suicídio, mas guerreira que é não deu o braço a torcer e, num clichê, deu a
volta por cima. E segue acreditando que tudo em sua vida tem o seu momento de
acontecer. Analisa que o momento atual é de se cuidar. Cuidar da vida, cuidar
da saúde, cuidar da mente para não adoecer totalmente. E segue dizendo: “o corpo de atleta a gente corre atrás
depois, tudo no seu tempo”.
Com a interrupção de treinos e
competições, Alice fez uma volta às suas reminiscências ao trançar os cabelos,
como forma de tapear a ociosidade, a angústia e a ansiedade. A “menina Maria”,
adjetivo que lhe deram em virtude dos seus 1,57 de altura, começou a trançar
cabelos quando tinha 15 anos. Porém, esta técnica só adquiriu valor de verdade
quando se inseriu no jiu-jitsu. “Comecei
a trançar com 15 anos, mas quando me inseri no jiu-jitsu percebi que as tranças
têm uma história por traz dela, de sobrevivência dos ancestrais que as usavam,
como estratégias de guerra, rotas de fuga, era uma questão de identidade e tal”.
Alice conta que começou a trançar
cabelos em arquibancadas e nas áreas de concentração, sempre depois das
competições de jiu-jitsu. Não escapavam os banheiros do metrô e das
rodoviárias. “Quando me deparei, estava
trançando dentro das competições e fiquei conhecida como MENINA MARIA TRANÇAS”,
conta Alice Maria. Assim, ficou conhecida como a trancista dos maiores nomes do
jiu-jitsu. “Participei como trancista
oficial nos eventos BJJSTARS e BJJBET”.
Assistente social de formação, Alice
desenvolveu o projeto social para ajudar outras mulheres que como ela, viveram
ou vivem em situação de risco e vulnerabilidade. Uma forma de levantar a
autoestima dessas lutadoras. Uma das modalidades é aula para ensinar técnicas
de trançado para mulheres egressas do sistema penitenciário, ou seja, ajudar
mulheres que não têm oportunidades. Há a necessidade de criar redes de apoio.
A ideia deste projeto social é
desenvolver formas para que as mulheres que passarem por este projeto percebam
que o sofrimento pelas mazelas que passam ou que passaram faz parte, mas sem se
perder na estrada da vida. E Alice chama a atenção que o seu projeto deve
acontecer nas comunidades, para todo tipo de mulher, com o objetivo de gerar
oportunidades para elas, para saberem se defender e terem uma alternativa de
trabalho, ainda que informal.
O projeto acontece na casa de Alice,
na zona sul de São Paulo. “Eu aprendi a
amar a vida, enquanto há vida, há esperança e se tudo o que eu passei na vida é
capaz de mudar a vida da outra ou do outro, eu vou fazer”, conclui.
Convidada a participar do projeto
Favela Kombat que terá a sua 38ª edição, no dia 24 de julho, no município de
Nilópolis, Alice, por esta em tratamento contra o câncer, não virá.
Porém,
o conceito do seu projeto social vai ao encontro de um dos braços do Favela
Kombat que busca ressocializar egressos do sistema penitenciário, dando
oportunidade para os mais carentes e que já exportou atletas para os maiores
eventos de luta do mundo, como o UFC e o Bellator.
Por: Clilton Paz.
Fotos:
Lael Rodrigues\Divulgação.