"Dolores Dala, o Guardião do Alívio" é uma
fábula sobre nascer amuleto, entregar magia e morrer no encanto. Tudo sob a
perspectiva da afetividade preta.
Dolores
Dala, o Guardião do Alívio, está desenhando um coração preto na América do Sul
que apaga tantos outros. Fazendo uma ode ao alívio argumentada quase a todo
tempo pela dor, tem o som e as letras de um coração marcado.
O
novo disco que Rico Dalasam lançou, nos aplicativos de música, através da
Altafonte, revisita suas emoções, seus afetos, vida e carreira. Ele traz frases
inteligentes e atuais. Rimas e sentimentos despejados de uma forma que só o
cantor e compositor, precursor da importante cena rap queer do país sabe fazer.
O campeão está voltando e trouxe consigo a dualidade que costura toda sua obra.
Desta vez embasada no reino da fábula, retirando do mundo real ensinamentos dos
últimos anos de vida.
De
certa forma, o álbum é um brinde à maturidade e à vitória de um cancelado. É a
deusa música sendo sua própria justiça e comprovando que talento é o melhor
remédio para que os grandes "não passem como Tik Tok", nem muito
menos "fodam com seu Tico e Teco". Dala Boy segue sua empreitada
inovando, impactando e valorizando suas lágrimas e as de quem ouve DDGA.
A
primeira parte do disco foi lançada no ano passado, inundada de elogios por
público e crítica. Na imprensa, encantou da turma da APCA a do Multishow.
"Braille", canção foco do EP feita em parceria com Dinho Souza,
ganhou o Prêmio Multishow de Melhor Música 2020, e os olhos do público voltaram
a enxergar o cara que surgiu em 2015, abalando as estruturas com o EP
"Modo diverso".
"Todos os assuntos que envolvem
DDGA estão no campo da subjetividade afrolatina. E os desdobramentos dos
enredos e narrativas das canções passam por situações que inevitavelmente são
contextos de dor ou de conflito, principalmente na área dos afetos, que acho
que é o lugar que mais me importa discutir neste momento", afirma Rico. "Não estou debatendo o corpo político ou
a vida do negro do modo social, mas discutindo um lugar lá dentro da gente que
é pouco elaborado no imaginário coletivo da sociedade", enfatiza.
Produzido
por Mahal Pita, Dinho Souza, Rafa Dias, Pedrowl, Moisés Guimarães, Netto
Galdino e Wallace Chibatinha, DDGA descende e reproduz África. "Envolve o afeto preto e como ele se
desdobra dentro de um território onde a história proporciona desde seu
princípio um lugar de preterido. Não se sabe, não se pensa, não se espera e não
se conta que a gente é feito de extrema humanidade quanto aos afetos e isso
demanda uma série de conflitos e questões", alerta Rico Dalasam.
Texto:
Ágata Cunha.
Foto:
Larissa Zaidan.