Há 50 anos, professora que teve 90% de seu corpo
queimado em incêndio busca indenização.
No
dia 17 de dezembro de 1961, a cidade de Niterói passou pela maior tragédia que
já viveu: o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, que deixou em seu rastro
cerca de 500 mortos e 120 mutilados, além de dezenas que foram obrigados a
conviver com marcas profundas e permanentes, físicas e psicológicas.
Zezé
Pedroza, como gosta de ser chamada, teve 90% de seu corpo queimado (queimaduras
de 3º grau) aos 11 anos, neste nefasto e triste evento. Entretanto, abençoada e
marcada para viver, Maria José, a despeito de todas as dores, sequelas,
atrofias e cicatrizes marcadas em sua carne, lutou, cresceu, se tornou professora,
esposa, mãe, avó, bizavó e, desde 2016, autora de livros físicos e ebooks.
Em
1962, a mãe de Maria José de Oliveira Pedroza deu entrada em um processo
indenizatório na Comarca de Niterói, onde foi chamada para diversas audiências.
No local, hoje, funciona a biblioteca judiciária. Por questões pessoais, Zezé e
sua mãe deixaram todo o andamento do processo nas mãos do advogado Dr. José do
Egyto. Mãe e filha buscavam um suporte financeiro, já que, mesmo não,
totalmente incapaz, Maria José ficou com membros atrofiados e outras sequelas
limitantes.
Em
1976, ela resolveu procurar pelo advogado e pelo processo, mas ambos haviam
desaparecido. E, durante anos ela buscou seu processo em cartórios
distribuidores de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro, em vão. Até que, em
2016, Zezé Pedroza encontrou seu processo. Entretanto, ela descobriu que havia
perdido a causa, já que nem o município de Niterói, nem o estado do Rio de
Janeiro, nem o Governo Federal se responsabilizaram pelo incêndio na época,
alegando que o incêndio foi criminoso.
Além
disso, Maria José também não recebeu o valor que cabia a ela do “Fundo de
Assistência às vítimas do incêndio em Niterói”, decretado e divulgado no Diário
Oficial, de 19 de dezembro de 1961, pelo então governador Celso Peçanha.
Porém,
a professora não desistiu e, com a ajuda de outro advogado, o processo foi
refeito e incluído na lista de processos especiais de direitos humanos da ONU.
Contudo o processo lá, está há quase 2 anos.
Maria
José Pedroza, hoje com 70 anos, sem desistir de seus direitos, busca apoio
governamental ainda em vida, como ela friza: “Foram tantas lutas! Tantas dores e perdas! Sempre fomos pobres,
entretanto meu pai vendeu tudo o que tinha para salvar minha vida. Depois de
tudo o que aconteceu comigo, não posso passar por essa vida sem ver concluída,
de forma positiva, a justiça dos homens em minha história”.
Número
do primeiro processo: 0000075-94.1964.8.19.0002.
Texto:
Roberta Pereira.
Fotos:
Divulgação.