“Asfixia” – Um respiro artístico de Laura Finocchiaro

Em novo single e videoclipe, a artista reflete sobre confinamento e brutalidade dos novos tempos.

“Não consigo respirar”. A frase que traduz o momento atual – em que o novo coronavírus provoca insuficiência respiratória e a violência policial mata cidadãos negros – serviu de inspiração para a cantora e compositora Laura Finocchiaro, que acaba de lançar o single e clipe “Asfixia”, canção musicada por ela com letra do jornalista e compositor cearense Flávio Paiva, e distribuída pelo selo Plural de Cultura em todas as plataformas digitais. 


Fruto de mais de cem dias de trabalho remoto, num home studio, no Rio de Janeiro, “Asfixia” tem produção musical de Laura Finocchiaro, criada sob encomenda de Paiva para o catálogo “Arte na espreita e na espera...Poéticas na quarentena”, de Bené Fonteles, artista multidisciplinar de Fortaleza. A balada punk foi criada para um projeto amplo de produção cultural que enfatiza obras sobre os efeitos da pandemia do novo coronavírus na sociedade e vai compor o novo álbum da artista gaúcha, com previsão de lançamento no final do segundo semestre de 2020.
Se em tempos de pandemia é preciso muita criatividade, o videoclipe de “Asfixia” não fugiu à regra. A edição é assinada por Rafael de Carvalho, a partir de imagens produzidas e captadas pela própria Laura através de seu celular e por fotografias cedidas pelos fotógrafos profissionais Fernanda Chemale, Teo Ponciano, Eduardo Kobbi e Marian Starosta, que também assina a consultoria de imagens.
O videoclipe já nasceu com uma improvisação do cenário: Laura ergueu um pano preto como um fundo neutro para cantar e tocar sua guitarra cor-de-rosa, usando uma máscara feita com seu próprio “$ dólaura”. Além dessas, a artista usou as imagens que registrou por semanas, no amanhecer do dia, quando percebeu que seu próprio reflexo poderia se tornar uma nova criatura nas sombras projetadas na parede de sua casa.  Ao mesmo tempo, fotógrafos parceiros e amigos também registravam cenas promovidas pela quarentena, de New York a São Paulo, os cruzamentos, o vazio das cidades, o céu, a solidão, janelas, muros e becos.


“Toda a produção é um jogo criativo. O silenciamento imposto pelo medo demandou uma resposta da arte”, explica Finocchiaro, que também é guitarrista, compositora, arte-educadora, produtora e diretora musical.  “A letra já é um videoclipe, é um roteiro falado”, conta.
Para o parceiro de Laura, o contexto da pandemia é um convite à expressão artística: “Covid-19 é um produto massivo da espiral de uma época em desmesura. Em seu espectro de danos, essa doença gera falta de ar nos pulmões da intolerância social e ameaça o destino das vontades fúteis. Ante à pandemia, o indivíduo desprovido de alteridade vê o esvaziamento da sua satisfação particularista e entra em situação de sufoco”. Expandindo as ideias, como o ar expande os pulmões, Flávio Paiva arremata: “o fato de a principal saída para reduzir a propagação do vírus ser a de buscar proteger uns aos outros, de preferência ficando em casa, gerou uma insuficiência respiratória nas ideologias de segregação. Ao ser submetido à aventura da convivência física entre paredes, o indivíduo sofrente de só pensar em si caiu em desamparo”.
Na letra, o roteiro da asfixia de escala mundial: “O ar acabou pra mim em Wuhan / Acabou em Nova Iorque / Já não respiro nas ruas de São Paulo”.  Em outro trecho da canção, embalada pela guitarra rosa, loops e synths eletrônicos, Paiva escreve: “Sei que você me chama de algum lugar / Mas não consigo entender nada”: “E morto, de olhos arregalados / Não vejo nada, não saio de mim”.
O videoclipe traduz o ar parado, contrastando com a conhecida melodia de "Summertime", famosa ária do compositor americano George Gershwin, citada na melodia instrumental da composição. 


“Asfixia” é parte do álbum de inéditas que Laura Finocchiaro está produzindo em seu home studio e que será lançado até o fim de 2020. Fôlego não lhe falta. E assim, ela mantém a arte respirando por ajuda de seus aparelhos – a guitarra cor-de-rosa, sintetizadores e celular.

Texto: Sheila Gomes.

Fotos: Divulgação & Marian Starosta.