Conheça a história da pedagoga paulistana radicada
em Florianópolis e saiba como ajudar o negócio social gerido por Jaque
Conceição durante a pandemia.
Santa
Catarina tem o maior número de casos de injúria racial do país, segundo o
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no fim do ano passado. Por
causa do dado alarmante e sabendo do esforço que a população catarinense faz
para mudar esse cenário, a pedagoga Jaque Conceição criou a primeira plataforma
do Brasil com foco em Educação feminista e antirracista do Brasil, o Coletivo
Di jejê.
Vítima
de racismo em muitas esferas profissionais, sobre as situações de racismo que
sofreu, Jaque lembra de uma das muitas situações que passou no meio acadêmico: “Me lembro de um dia que eu entrei no
elevador, na PUC, e estava com um copo de café na mão, e uma professora branca
colocou uma bolinha de papel dentro do meu copo e falou: ‘Minha Querida, joga
fora para mim, por favor’. Para aquela professora, a única forma de uma mulher
negra estar no elevador de uma das principais universidades brasileiras, seria
trabalhando na limpeza, jamais como uma aluna, jamais como uma professora”,
relembra.
Racismo estrutural motivou criação do
Coletivo Di Jejê.
Situações
como a da PUC, incentivaram Jaque a fundar o Coletivo Di jejê, em 2014. A
pedagoga, formada pela Universidade São Camilo e doutoranda em Antropologia
Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, veio de família humilde e
as vulnerabilidades sociais que enfrentou a fizeram ter certeza sobre o caminho
a seguir: “Eu vim de uma família muito
pobre, de um bairro muito pobre, na periferia de São Paulo. Todos os meus
amigos ou foram mortos pela polícia ou pelo tráfico. Imagina que minha avó não
sabe nem ler e nem escrever, fui a primeira pessoa da minha família a me formar
no ensino superior. A Educação foi um lugar em que eu busquei para me
desenvolver de todos esses marcadores”, relembra. “Quando eu criei o Di jejê, aliei o desejo e a necessidade de uma forma
de combate ao racismo através da formação da cultura e da Educação. Esse é o
meu lugar, eu sou professora. A gente só vai conseguir enfrentar o racismo
através de uma Educação antirracista”.
Ciente
de que muitos professores poderiam estar aproveitando a pandemia para se
aprofundarem no desenvolvimento antirracista, durante o mês de junho, o
Coletivo Di jejê irá apoiar professores da rede pública básica de todo o
Brasil, mas para isso, precisarão de ajuda do público. Comprando o nosso pacote
Kukala, o Di jejê doará outro pacote para um professor da rede básica, o pacote
é composto por oito cursos.
Cada
curso pode ser parcelado no cartão de crédito, sem juros, e custa R$ 195. Para
se inscrever, basta acessar o site: coletivodijeje.com.br . Se você quiser
apenas fazer a doação, dois cursos serão doados, para dois professores da
educação básica do país. A Kukala é um pacote com oito cursos de formação
voltada para professores sobre a lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade
de “história e cultura afro-brasileiro”,
com conteúdo para formação técnica da educação infantil ao ensino médio.
Pensadores contemporâneos.
Através
dos 85 cursos ofertados pelo Coletivo Di jejê, Jaque empodera outros negros e
pardos em busca de suas raízes e desenvolve potencialidades através de cursos
de étnico raciais e de gênero. Com cursos focados em pensadores contemporâneos
como Angela Davis e Conceição Evaristo, o Di jejê tem construído ao longo dos
seis últimos anos um local para desenvolvimento psicopedagógico a preço
acessível, com cursos a partir de R$ 70, avulsos, e até pacotes completos que
custam R$ 320 (pacote semestral) e R$ 600 (anual) e incluem todos os cursos
disponíveis nas quatro plataformas. Os cursos do Di jejê são divididos em quatro
plataformas:
· Nkanda:
Cursos e conteúdo sobre feminismo negro e o pensamento racial negro. A pessoa
faz um pagamento e acessa por 12 meses.
· Kukala:
Nosso curso de formação voltada para professores sobre a lei 10.639, com
conteúdo para formação técnica da educação infantil ao ensino médio.
· Intié:
Plataforma voltada para educação indígena, voltada para professores, com
conteúdos de formação técnica e da Educação Infantil ao ensino médio.
· Ifá:
Plataforma voltada para empresas, para a diversidade étnico-racial e para o
ambiente empresarial. São quatro cursos compostos por vídeo-aulas de 10
minutos. Cada curso contém quatro vídeo-aulas, disponibilizados para
colaboradores das empresas que fazem a assinatura dos serviços por três meses.
Espaços de fortalecimento racial.
“Uma das coisas que eu tenho refletido
muito é a importância que nós tenhamos espaços como a Casa Preta funcionando
para professores, estudantes a discutirem e a pensarem sobre essas questões.
Precisamos ter uma faculdade na formação etnicosocial para profissionais que
queiram aprofundar sua prática através disso: O Direito, a Engenharia, a
Matemática, Química, Medicina, História. Que diversas áreas de conhecimento
tenham espaço, é para isso que o Di jejê está caminhando”.
Futuro terá faculdade e MBA.
Segundo
Jaque, o futuro breve do Di jejê inclui pós-graduações com grade de 600 horas e
que os alunos possam pagar valores acessíveis, custando menos de mil reais pelo
curso completo, podendo parcelar sem juros no cartão. Passando por
credenciamento junto ao Ministério da Educação. Daqui a alguns anos, o Di jejê
oferecerá graduações presenciais e à distância.
Texto:
Tássia di Carvalho.
Fotos:
Divulgação.